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EM CD, RITMISTAS BUSCAM VARIEDADES DA PERCURSSÃO

Folha On Line

08/02/2008


Existe um hábito, principalmente durante gravações de samba, no Rio, de definir os instrumentistas como "os músicos e os ritmistas", como se os percussionistas não se enquadrassem na categoria "músicos".

O costume virou piada no meio musical, lembra Domenico Lancellotti. E, em 2005, quando o baterista do projeto +2 se juntou aos também bateristas Dany Roland (do Metrô, banda pop na década de 80) e Stephane San Juan (da Orquestra Imperial), foi essa mesma praxe que inspirou o trio a assumir o nome Os Ritmistas.

Dany Roland, Domenico e Stephan San Juan formam o trio Os Ritmistas

A insólita formação, que deve se apresentar neste semestre no PercPan (Panorama Percussivo Mundial), teve seus resultados registrados no fim do ano passado no CD "Os Ritmistas".

Não é uma procura pela batida perfeita, como o nome pode dar a entender. "Só num disco de três bateristas você vai encontrar uma faixa sem bateria", ri Domenico, referindo-se a "Palpite", em que canta acompanhado só pelo baixo e pela guitarra de Pedro Sá, colega dele e de Stephane na Orquestra.

A proposta do trio é explorar as nuances do ritmo como melodia. Daí que o resultado acabou mais parecido com o primeiro disco do +2 (o "Máquina de Escrever Música", que tinha Moreno Veloso à frente e privilegiava as canções) do que com o álbum "batera" do projeto, comandado por Domenico, ("Sincerely Hot").

"As gravações foram muito espontâneas, como no disco do Moreno. É minimalista, quase artesanal, com poucos recursos técnicos", diz Domenico, que assina quase todas as faixas, sozinho ou em parcerias. O clima tranqüilo de Santa Teresa, bairro do Rio onde foram feitas as gravações, ajudou. "A gente gravava de janelas abertas, e, se entrasse o som da rua, ficava."

Sambas e baladas

As experimentações valeram tanto para faixas inéditas, caso da lenta "Um Canto Quieto", de Domenico e Adriana Calcanhotto, quanto para a releitura de "Rádio-Patrulha", sucesso de Silas de Oliveira (com José Dias, Luisinho e Marcelino Ramos) em Carnavais dos anos 50. "Escutei "Rádio-Patrulha" num terreiro de macumba, em seis por oito, e achei que seria interessante tocar um samba nesse andamento", diz Domenico, sobre a versão em que divide os vocais com Virginie, também do Metrô.

Ainda entre as faixas mais dançantes, há "Samba de Pacto", um quase mantra assinado pelos três Ritmistas e composto por apenas três versos (sendo que um deles se resume a "...pacto com o capeta, pacto com o capeta, pacto com o capeta..."). No Japão, onde o CD chegou às lojas no meio do ano passado, foi essa mistura de repique e agogô com eletrônico que ganhou as pistas.

No outro extremo, a quase bossa "O que Aconteceu", de Domenico e Wilson das Neves, divide-se entre a voz suave do primeiro e os vocais graves do (claro, baterista) veterano.

Em meio a tantos bateristas, a variedade de estilos pode ser creditada a outra peculiaridade, diz Domenico, carioca de ascendência italiana. "O Stephane é francês, e o Dany é uma mistura maluca de judeus do norte da África com franceses e nasceu em Buenos Aires. Ou seja, é tudo brasileiro", brinca.

RAQUEL COZER

da Folha de S.Paulo

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