OLHAR

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METRÔ

Songweb/Dropmusic

02/2003

O Metrô lançou apenas dois discos na década de oitenta, mas conquistou o coração de fãs pelo Brasil inteiro que aguardavam ansiosamente a volta da banda, ainda mais quando viam que outras bandas daqueles tempos estavam voltando e gravando. E o grupo não decepcionou, voltou em grande estilo com o álbum Déjà Vu, que mesmo com um som bem diferente da new wave que faziam, agradou aos fãs e também aos que conheceram a banda a pouco tempo. A Song conversou com o Dany, baterista do Metrô que contou um pouco da história do grupo, de como foi voltar a tocar com os antigos companheiros e o que pretendem fazer no futuro.

SongWeb: O novo disco aposta em um som diferente do que os fãs estavam acostumados. Será que se a banda não tivesse acabado vocês estariam fazendo um disco exatamente igual a este Déjà Vu?

Metrô: Acho que seria, pois é exatamente o que queremos dizer hoje. Acho que este é um caminho que vínhamos trilhando desde “A mão de Mão” que era mais rock e também mais “raiz” ou roots (Portuguesas e Africanas). O disco abria com uma gaita de fole (foi assim o primeiro contato que os portugueses fizeram com os índios. Havia mais de 200 gaiteiros na esquadra de Cabral). Acho que o que o Brasil tem de mais moderno é a mistura (e sem ranço). E uma diversidade que não tem tamanho. Não existe isso em lugar NENHUM do mundo, nem em Paris, Londres ou Nova York. Nossa cultura é riquíssima e não sabemos. Somos primeiro mundo não só no Futebol mas na música também. E na Tolerância. Todas as culturas são bem-vindas e convivem em harmonia. Déjà vu acaba com várias pessoas conversando em diversos idiomas, e esta conversa vira um bate papo de praia no posto 9 em Ipanema com os vendedores vendendo biscoito de polvilho e mate... na PAZ.

SongWeb: Se você pudesse voltar no tempo, mudaria algo em relação ao fim do Metrô?

Metrô: Com certeza mudaria, pois não foi decisão minha e muito menos da Virginie (fomos voto vencido pelos outros três). Continuaria a trabalhar com a Virginie e chamaria outros músicos amigos que sempre tocavam conosco e nos substituíam em emergência como Andrei Ivanovic (Okoto, O Terço etc) e Jean Louis Leblanc (irmão de Zaviê). Cheguei a pensar isso na época mas o clima era pesado DEMAIS. Foi enriquecedora a experiência e todo o processo de “A mão de Mao”, mas uma coisa não impedia a outra entende? Éramos livres.... mas infelizmente não consegui convencer os outros... consegui um tempo... mas quando soube já era tarde... nem me avisaram... fiquei sabendo pela Virginie que veio me encontrar em São Bernardo onde estava gravando um comercial nos estúdios da Vera Cruz.

SongWeb: Alguns fãs devem ter estranhado o "novo estilo do Metrô", principalmente aqueles que esperavam algo nos moldes dos sucessos antigos. Como está sendo a receptividade deste novo trabalho? O que vocês estavam esperando?

Metrô: Em geral está sendo muito bem recebido. Não tínhamos expectativas e continuamos não tendo. Estamos sendo sinceros e isso é fundamental. Quando gravamos não tínhamos a preocupação de ser ou soar diferente do Metrô, ao contrário queríamos ser o máximo da gente possível... mas hoje... Dany, Yann e Virginie. Quanto ao nosso lado "brasileiro"... sou louco por cultura popular (Virginie também)... sempre fui... aprendi a tocar bateria em jogos de futebol no Pacaembu que freqüentava desde criança levado por meu pai para ver o Santos de Pelé... na Torcida Jovem do Santos Futebol Clube... portanto, o primeiro ritmo que aprendi a tocar foi o Samba. Mas isso não significa que no nosso próximo trabalho (se houver um) tenha Samba... Não seguimos fórmulas. ARTE significa FAZER e como dizia Marcel Duchamp, "somos artesões e não artistas"... é assim que me sinto. O que nos move é o trabalho... e temos vontade de trabalhar com todos os materiais existentes... tudo que emociona... e que faça pensar... e que seja um desafio... ou seja a vida. Sobre as línguas ergue-se a linguagem. Também não acho que estejamos + eletrônicos... ao contrário... estamos MUITO menos... O Olhar era Techno. Gravei todas as baterias (com exceção de Olhar e Johnny Love) em Linndrum e Simmons (baterias eletrônicas da época). Zaviê gravava os baixos num JX3P com sequencers etc... por isso acho uma piada quando as vezes leio que abusamos dos eletrônicos ou usamos muitos samplers no Déjà vu... ao contrário... nunca usamos tantos violões piano, percussão, trompete, sax etc... e os samplers são de ambientes, pois acho que a música não deve estar separada do mundo... da vida... portanto, quanto mais ruído externo melhor...

SongWeb: Os discos antigos do Metrô não estão mais em catalogo, existe interesse em lança-los novamente?

Metrô: Acho que existe sim. Acho que deveria estar TUDO em catálogo (como no Japão) porque o que está em jogo é a Cultura do Brasil... senão fica um país sem memória... e um país sem história é um país sem futuro... E acho que este trabalho não é feito porque a mentalidade das pessoas que comandam as gravadoras é imediatista... Pra ouvir o Luis Bonfá, somos obrigados a comprar edições japonesas (!!!!!!!). Agora o Gavin tem convencido alguns selos a lançar algumas pérolas perdidas...

SongWeb: Como foi a escolha do repertório?

Metrô: Foi difícil (sempre é) pois lançaríamos todas... quando chegamos na TRAMA, eles nos disseram: "vocês tem aqui dois discos”... não tínhamos nos dado conta disso (havia no CD 23 musicas). Acabaram entrando 19 pois depois de 14, os impostos são absurdos. Queremos jogar algumas no Site pra galera baixar... Umas não entraram pois não conseguimos autorização... Outras porque não conseguimos uma mixagem razoável. De fato tem muito material mixado e outras que nem mexemos ainda... como Chega de Saudade... e duas LINDAS músicas inéditas em parceria com Cibelle Cavalli {Suba}... uma parceria com Lucas Santtana etc... e também por que não cabia mais pois o CD já tem 78' e poucos...

SongWeb: Vocês trabalharam com vários outros músicos convidados, como Otto, Jorge Mautner, Preta Gil, como foi esse trabalho com músicos de estilos diferentes?

Metrô: Durante a gravação trabalhamos com Otto na trilha de “Casa se Boneca” de Bia Lessa. Foi ÓTIMO trabalhar com ele... um dos maiores músicos que já conheci... quando grava sai de si... é uma das coisas + bonitas que já vi... baixa o santo MESMO. Jorge Mautner também, estávamos trabalhando juntos na exposição da Bia Lessa "Claro Explícito" (onde fiz a trilha e os vídeos e que ainda está em cartaz em São Paulo no Itaú Cultural até o fim de Fevereiro). Ele vinha direto em casa... Ele nos dá aula de Filosofia e História há anos... ao Brasil... A Preta Gil conheço desde que era menininha e ela já tinha uma voz fantástica e era uma simpatia... mas não cantava... era tímida... agora está gravando seu primeiro disco. Virginie esqueceu de gravar um pedaço da letra e pensei nela na hora. São tantos... Lucas Santtana, Bruno LT, Gustavo Tatá, André Fonseca, Waly Salomão, Nelson Jacobina e outros amigos. Cada um, uma história...

SongWeb: Por mais que tentemos evitar falar da volta de várias bandas dos 80, é algo muito difícil. Como vc vê este revival?

Metrô: Vejo com simpatia. Acho que há espaço para todos. Isto é um fenômeno mundial... não só brasileiro.

SongWeb: Em Déjà Vu, vocês optaram por um caminho mais difícil, que foi o de lançar um disco novo, com músicas inéditas e novas versões - coisa que o Zero também fez -, enquanto alguns outros grupos simplesmente resolveram voltar voltar e gravaram um acústico - ou um ao vivo -, com pouca coisa nova. Porque esta opção?

Metrô: Acho que nenhum dos dois é fácil... não é moleza gravar um disco ao vivo. Já assisti a gravação de um acústico (Rita Lee) e vi o quão tenso é... dá pena... é um sofrimento... mil câmeras... uma adrenalina... Quando nos propuseram... eu não quis gravar desta forma pois afinal estávamos há 17 anos separados... não faço show há anos... Também não acho que tenhamos uma obra para gravar um acústico (afinal só temos duas: Olhar e A mão de Mao que nem em catálogo estão). Queria gravar com mais intimidade num momento REAL de confraternização, alegria, diversão e prazer e não pra uma platéia “VIP” e “300” câmeras etc... Nós nos devíamos este CD... era só entre nós. Isso não impede que um dia façamos. O repertório, eram “as músicas mais importantes pra gente”... nas nossas vidas tinham centenas... Foi um ótimo começo pois precisávamos achar o tom certo... Adoro o Zero, somos amigos. O último CD deles Eletro Acústico é ótimo... super bem produzido. Acho que não teve o devido reconhecimento. Acho o sucesso do Capital Inicial mais que merecido. Mas penso também que atualmente existe muito oportunismo nesta fórmula pseudo-acústica. Adoro trabalhos criativos que nem este último do Pato Fu... que são sempre fantásticos e surpreendentes.

SongWeb: Durante este tempo longe do Metrô, você se dedicou a outros projetos, principalmente no cinema, como foi esta mudança de ares? O que esta fazendo nesta área agora?

Metrô: Nunca fiquei parado mesmo pois meus pais não tinham muitas condições. Comecei a trabalhar com 12 anos como DJ. Fui um dos primeiros freqüentadores da Galeria do Rock quando só havia uma loja: a Wob Bop do René em 1974. Há alguns anos fui trabalhar no Teatro Municipal de São Paulo e levei minha filha até lá... pensei na hora numa frase do Tchekov em "As Três Irmãs" : "agora vocês são três, daqui a dez anos serão trezentos, e daqui cem anos, mil e assim por diante”. Éramos minoria... eram sempre os mesmos cinqüenta que freqüentavam os shows na década de 70... todo mundo se conhecia... Hoje olhando toda aquela garotada... dá uma alegria sem tamanho... me sinto meio pai... Depois do Metrô toquei com Nau, Okoto. Em 89 recebi um convite de Bia Lessa para atuar em Orlando de Virginia Woolf (mostramos este espetáculo na França, Alemanha, Espanha, Canadá etc...) com Fernanda Torres, Julia Lemmertz, Betty Goffman etc... Depois fui pra Paris e Bruxelas onde fiquei até 92 tocando numa banda com Yann "The Passengers", gravamos um CD ótimo mas brigávamos demais... (Jurei nunca mais tocar em banda nenhuma...) Toquei também com Plastic Bertrand (fenômeno mundial nos anos 80 com Ça plane pour moi). Voltei pro Brasil quando Collor caiu e atuei em Viagem ao Centro da Terra (com Claudia Abreu), O Homem sem qualidades (com Lucélia Santos), As Três Irmãs (com Renata Sorrah). Em 1995 dirigi e atuei em um Longa Metragem que fiz com Bia no sertão Cearense: CREDE MI (baseado em O Eleito de Thomas Mann) que mistura a linguagem erudita e popular e que foi exibido em vários festivais no Mundo... em Berlim, São Francisco, Nova York, Biarritz, Paris, Jerusalém, etc... foi todo rodado em vídeo digital no melhor estilo Glauber (ou Dogma)... todo com uma câmera na mão. Uma experiência e tanto.Toquei também com o “Goodnight Varsóvia” formado por Léo, Domenico, Moreno Veloso e Kassin ( Moreno +2), Mauricio Pacheco (Stereo Maracanã) e Pedro Sá (Caetano Veloso). Fizemos verdadeiros happenings aqui no Rio... Humaitá pra peixe etc...

Voltando a sua pergunta...

Estou há anos produzindo nosso segundo filme MARIA

Já está todo filmado e estamos editando (são 350 horas de material). Foi rodado no Maranhão, Ilha do Marajó, Belém, Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e interior de São Paulo.

Gravei também horas de material em DAT... de músicas populares em festas populares lindas... espero um dia lançar em CD, pois são um ótimo registro da riqueza da música popular brasileira. Remixei várias musicas (19) de Benjor (pro desfile da Salinas no Rio Fashion Week) com o DJ Gustavo Tatá e um dia espero que seja lançado... muitos DJS já tocam na noite...

Estou fazendo o desenho sonoro do Museu de Paraty que vai abrir este ano... gravando depoimentos com moradores e músicas típicas paratyenses... É um trabalho muito emocionante pois será um Museu permanente numa cidade que é patrimônio histórico da Humanidade...

SongWeb: O fato da Virginie morar fora do Brasil não irá atrapalhar os trabalhos de divulgação do novo disco?

Metrô: Acho o contrário, acho que o fato de Virginie morar em Moçambique só ajuda, assim nos organizaremos para fazer TUDO o que for necessário quando ela estiver no Brasil. E assim a vida de todos segue seu rumo natural para que o Metrô seja algo especial (para nós) e não um trabalho fútil... Estamos começando a editar um Clip de Mensagem de amor. O DJ Felipe Venâncio está remixando Mensagem em uma versão em Francês que sairá na edição européia ...Vários DJS estão remixando músicas variadas...

Estamos nos organizando para quem sabe em Abril fazermos shows em algumas capitais brasileiras e na África também. A TRAMA levou Déjà vu em Janeiro para Cannes no MIDEM pois devemos lançar o CD na Europa e Japão. Queremos alguma hora ir até Moçambique gravar com músicos de lá. Devagar e sempre.

SongWeb: O que você espera para 2003?

Metrô: Pra 2003 espero o de sempre: PAZ e AMOR na Terra.

• Confira também a seção especial do METRÔ na Dropmusic (antiga Songweb).

Entrevista concedida a Valdir Antonelli.

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