À primeira vista (e escuta) o álbum pode receber imediatamente o título de remix electrónico de música brasileira. Ponto final. Parágrafo. E daqui poderíamos partir para um incomensurável número de álbuns em oferta nas montras das lojas ou até nos anúncios da TV. Para além da percepção errónea, ter-se-ia perdido, infelizmente, a oportunidade de testemunhar mais do que um óptimo álbum de música brasileira – um álbum do mundo. Quando alguém lança um álbum em parte assente no tratamento e ‘remixagem’ de canções previamente criadas por outros, é inegável afirmar-se que parte do sucesso passará, sempre, pelas escolhas feitas. Quer isto dizer que: escolham-se as músicas certas e é meio caminho andado para se chegar a um álbum cativante. Retoque-se cada faixa com aquele toque pessoal e único e ofereça-se-lhe uma nova dimensão e temos, incontornavelmente, um grande álbum. É um pouco isto que acontece com “Déjà-Vu”, dos Metrô. Escolhas pessoais
“Johhny Love” é a noite chuvosa de uma cidade cosmopolita transformada em música. O canto apaixonado e dolente. Quando a perdição se faz canção e se adora acompanhar em sussurros distantes. Mas a provar o eclectismo dos Metrô segue-se “Rapaz da Moda”, com incursões jazzísticas e a contribuição enérgica nos coros pelas vozes da cozinheira, da ‘bábá’, das amigas e de mais umas quantas pessoas que visitavam a casa e os Metrô naquele dia. Mas claro que há mais. “Resemblances” lembra o último trabalho de Allison Goldfrapp. E quanto à delicada e adorável “Sândalo de Dandi”, revela uma electrónica quase amadora ao serviço da voz meiga de Virginie que vai enlevando quem ouve e roçando aquela fímbria da eterna tranquilidade celeste. Sem dúvida uma das mais belas conquistas de “Déjà-Vu”. A arte da escolha
A faixa homónima exibe pelos Metrô um virtuosismo q.b., a misturar samba com laivos de guitarra e muita electrónica (pelos segundos iniciais quase diríamos que aí vinha Jean-Michel Jarre). Quanto ao remix, pelos Apollo 9, dilata a sonoridade dos anos 80 e mistura-a com os laivos electrónicos e a noção rítmica da dance-music dos anos 90. Venha o diabo e escolha. Escolha-se
A simplicidade é a maior prova criativa
em qualquer arte, e ainda que os Metrô não a alcancem na forma
mais pura em todas as faixas, “Déjà-Vu” recheia-se ainda
assim de vários exemplos para quem duvidava da imprescindibilidade
deste álbum nas escolhas do ano. Eu era um deles. Repito: era.
|