OLHAR
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do Metrô
FILHA
DOS ANOS 80, A BANDA METRÔ RENASCE INDEPENDENTE, COM UM PÉ
NA MÚSICA ELETRÔNICA E OUTRO NA MPB
Brasil
Online
16/12/2002
O
Metrô está de volta. A banda brasileira nascida e desintegrada
nos anos 80 retoma as atividades pela via independente, 18 anos após
ter lançado o primeiro compacto pela CBS (atual Sony Music). Eles
até chegaram a mostrar o novo trabalho para algumas gravadoras grandes,
mas não foram muito bem vindos. "Os executivos não entenderam
nada, acharam uma bosta. Um até disse que nunca tinha ouvido nada
tão ruim na vida", conta Yann Lao, integrante da banda. O CD está
sendo distribuído pela gravadora Trama.
Se na formação original eram cinco
os componentes do Metrô, a versão 2002 da coisa vem mais enxuta.
A vocalista Virginie e os multiinstrumentistas Dany Roland e Yann permanecem,
mas onde andam os outros dois membros? "O Zavie chegou a gravar quatro
ou cinco músicas nesse disco, mas não estava querendo dor
de cabeça. Ele tem um restaurante que acabou de ampliar, tá
com três filhos. O Alec não participou porque ele tá
com o Kiko Zambianchi, tá com outros projetos com uma menina e também
porque não se interessou", conta Yann. "De repente, foi até
bom, porque quanto menos gente, mais concentrada fica a coisa", ele avalia.
Para participar desse retorno, o novo Metrô
chamou quem passava por ali na hora das gravações, desde
Jorge Mautner e Otto até o poeta Waly Salomão. "Foi tudo
muito natural. Não teve empresário nem gravadora no meio.
Não teve nem cachê, foi tudo na base da amizade mesmo", explica
Yann.
A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu
para o BOL, com exclusividade.
Esse disco é uma retomada da banda pra
valer ou é um projeto solto?
No início era solto, a gente nem pensava
que viraria disco. Quando um disco saiu daí e a [gravadora] Trama
se interessou por ele, a gente se animou e agora já vislumbra uma
volta definitiva da banda. Até porque, depois de 17 anos separados,
tínhamos que ver como rolava a alquimia entre a gente. E a coisa
foi tão linda e tão prazerosa que agora, acho que a gente
entrou num processo irreversível.
De quem veio o primeiro impulso para a volta?
De todos nós. A gente ficou todos esses
anos separados musicalmente, mas continuamos amigos. E nossos amigos em
comum começaram a sugerir que a banda gravasse alguma coisa.
Daí pra começar realmente...
Fui encontrar com Dany no Rio de Janeiro, me
mudei pra lá e começamos a trabalhar algumas coisinhas. Mostramos
o resultado pra Virginie, que estava morando em Moçambique, e ela
gostou muito. Acabou voltando para o Brasil e gravamos umas 40, 50 músicas,
completamente sem compromisso. A gente não tava pensando em volta
de Metrô nem nada disso.
50 músicas? Então vocês
se internaram no estúdio, não?
Não, tudo foi gravado em casa com um computadorzinho,
um microfone, dois teclados e um violão, só. Várias
músicas foram gravadas assim: aproveitamos uma semana da estadia
da Virginie no Brasil e fomos gravando a voz dela encima de um bit. Depois
trabalhamos encima desse material.
E o material que sobrou, deve vir à
tona ainda?
Tem um outro disco pronto, várias coisas
que não puderam entrar por causa de editora, por não ter
havido tempo de serem liberadas. Mas é um monte de material e a
gente ainda está com milhares de idéias. Tô louco pra
fazer outro. Mas vamos primeiro trabalhar esse, temos turnê nacional
entre março e abril e européia no verão. A Trama realmente
vai lançar o disco lá fora.
Esse disco tem apelo internacional, você
não acha?
É, estão falando isso pra gente.
Vocês não achavam?
Não, porque a gente não fez pensando
em nada: nem em retorno de Metrô, nem em anos 80, nem em ser comercial,
nem em não ser, nada disso. A gente tava se devendo esse disco,
um pros outros. E a primeira reação de todos que ouviram
o disco depois é essa, de achar que ele é internacional.
No começo, a gente achou que fosse viagem, mas tem tanta gente repetindo
isso que já estou começando a acreditar.
Vocês gravaram coisas que seriam improváveis
em um disco do Metrô. Como foi feita a escolha desse repertório?
O critério do repertório foi assim:
"o que te arrepia?". Assim entraram todas. "Coração Vagabundo",
por exemplo, a gente gravou porque a Virginie canta desde os 12 anos de
idade. Isso é o bom do disco independente: você grava só
o que você quer, como você quer, aonde você quer. Não
fica nenhum diretor artístico se metendo no trabalho dizendo o que
você deve fazer.
No primeiro disco do Metrô, "Olhar",
muita gente meteu o bedelho? O disco ficou muito diferente do que vocês
queriam a princípio?
O produtor daquele disco, [Luis Carlos] Maluly,
fez nossa cabeça pra gente usar bateria eletrônica. O disco
foi todo feito assim, mas como a gente não sabia programar aquilo
direito, o som saiu meio duro em muitos momentos. A gente era muito novo,
tinha 21 anos. Eu curto o disco, mas ele tem uma linguagem muito datada.
Aquilo tem cara de 1985 mesmo! E a gente não quis recuperar essa
estética em momento nenhum pra esse disco novo. Já se passaram
17 anos e a gente cresceu, aprendeu, estudou muita música. Por isso,
quando algumas gravadoras grandes procuraram a gente pra fazer essas coisas
de Acústico e essa onda que está rolando, a gente não
quis. Pra gente não interessa recuperar uma coisa que já
foi.
Se o repertório "afetivo" caiu em Caetano
Veloso, Jorge Ben, Ataulfo Alves, Ary Barroso, o sonho do Metrô sempre
foi ser uma banda de MPB?
A gente sempre teve esse lado. O "Beat Acelerado",
que a gente gravou no começo... Quando a gente foi fazer o lançamento
do primeiro disco, no Morro da Urca e, no final do show, chegou no camarim
e tinha uma puta cesta de rosas que o João Gilberto tinha mandado
pra Virginie. Ele sacou que o "Beat Acelerado", apesar de toda essa linguagem
eletrônica que tinha por cima, tem uma harmonia completamente bossa
nova. Era MPB por dentro, mas com uma roupagem que não era MPB.
Por que o Metrô acabou?
Porque tudo acaba. A gente começou a coisa
por prazer. Depois, quando ela estourou, a gente se viu fazendo shows pelo
Brasil em lugares enormes e sem infraestrutura nenhuma. As condições
eram muito difíceis, o som era horrível, microfonia. Era
difícil conseguir um instrumento, tinha que contrabandear e era
um sacrifício. E nós tínhamos seis ou sete shows por
semana. Isso foi desgastando muito a gente. Até que a gente decidiu
parar tudo, não era o que a gente queria.
Não teve uma briga no meio?
Não, a gente parou mesmo porque não
conseguia agüentar o estresse de trabalhar em condições
tão ruins.
Mas vocês ainda chegaram a gravar um
segundo disco em 1987, sem a Virginie...
Não, o primeiro disco que a gente gravou
junto chamava "A Gota Suspensa". Era independente com a Virginie, o Dany,
o Alec e eu. No baixo, era o Tavinho Fialho. Esse disco foi parar na Sony
e a gente, por causa dele, conseguiu gravar o "Olhar", que foi quando a
gente estourou. Depois dele, fizemos esse sem a Virginie que você
citou, chamado "A Mão de Mao" e ela gravou um disco sozinha, também.
Esse segundo disco não chamou atenção
como o primeiro, não é?
O segundo foi muito estranho. A gente guardou
o mesmo nome, Metrô, só que com outro vocalista e um som radicalmente
diferente. Ninguém entendeu nada. Mas a gente adorou fazer, foi
uma válvula de escape.
Será que se a banda nunca tivesse parado,
sua linha evolutiva sonora teria dado num lugar parecido com esse "Déjà-vu"?
Não sei responder. A gente poderia ter
trilha um caminho que desviasse. Mas acho que Haveria grande chance, porque
a Virginie sempre gostou de MPB. Na primeira fase do Metrô, os meninos
iam no Rose BomBom, no Napalm e em lugares de música eletrônica
enquanto ela ia a roda de samba. Mais cedo ou mais tarde, esse lado MPB
ia surgir. Pode ser que a gente chegasse nesse ponto. Mas pode ser que
a gente ficasse naquele negócio tecno, tecnopop.
Você acha que o futuro da música
gravada é esse, se tornar cada vez mais "feita lá em casa"?
Acho que é uma das possibilidades. Porque
tem gente que precisa de muito equipamento em volta pra se sentir segura.
Outras pessoas não precisam de nada, que é o nosso caso.
Não tem regra, depende da autoconfiança de cada um.
(Marcus Preto)
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